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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A GRANDE CONSPIRAÇÃO



Miguel de Sousa Tavares in Expresso 22SET2012

Quando o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, é filmado numa conversa entre os seus a dizer que não se preocupará com os 47% deamericanos que votam Obama porque se imaginam vítimas e apenas querem viver dependentes do Estado, não estamos perante uma das suas já habituais asneiras, mas sim perante aquilo que é o pensamento profundo da extrema-direita económica 
americana, cujos filhos dilectos agora nos governam, depois de terem tomado o poder no PSD. O que ele quer dizer é que procedeu a uma selecção e apenas governará para a metade dos americanos cujo bem-estar depende do abandono dos outros.
O "sonho americano" pressupunha uma sociedade livre, em que a igualdade se traduzia na possibilidade de cada um escolher o seu caminho e triunfar por si só — o que, por sua vez, pressupunha a igualdade de oportunidades para todos, à partida. 
Mas quando, em 1929, o capital especulativo rebentou com a bolsa de Nova Iorque e arrastou os Estados Unidos e o mundo para a Grande Depressão, F. D. Roosevelt e J. M. Keynes demonstraram que o Estado não se podia limitar à função de mero espectador do "saudável jogo económico" e que lhe cabia um papel decisivo na regulação do sector financeiro e industrial, no estímulo à economia e ao emprego em tempos de crise e na correcção das desigualdades que a tão louvada igualdade de oportunidades não garantia. Depois de FDR. todos os presidentes democratas alimentaram o sonho de uma .América onde o sucesso individual não implicasse a construção de um país que, sendo a nação mais rica do mundo, abandonava à sua sorte um exército de desempregados permanentes, de homeless habitando nas esquinas ou nos parques e de dezenas de milhões de americanos morrendo sem assistência médica porque os seus seguros privados de saúde ou não existiam ou não chegavam para os tratamentos. A isto chamam os republicanos uma tentativa de
reproduzir o "estado social" — que, segundo eles, é a ruína da Europa. No credo republicano, apenas Deus e o talento individual de cada um determinam o destino das pessoas e das nações. 
A falsidade de Romney é dizer que só os desventurados dependem do Estado. Sob a administração de George W. Bush, o Estado tudo fez para ajudar os potentados: baixou-lhes os impostos, desregulou-lhes a actividade, consentiu-lhes todo o tipo de crimes ambientais, sempre em nome do princípio de que o mercado e a iniciativa privada, deixados em paz e à solta, encarregar-se-iam de criar e semear a riqueza 
universal. O resultado foi novo triunfo da especulação financeira com a consequente falência de quase todo o sistema, a destruição de milhões de postos de trabalho e a ruína da administração, obrigada a fazer dinheiro sem parar para evitar a depressão.
Depois de o pai ter deixado o país em défice descontrolado e depois de o democrata Clinton, contrariando a propaganda republicana, ter posto ordem nas contas públicas, passando ao seu sucessor um país em superavit, o idiota absoluto do Bush-filho estoirou toda a herança que recebera e entregou a Obama uma administração de novo falida e uma nação economicamente destruída e em guerra. Mas onde os 
multimilionários, que tinham feito implodir tudo, viam a sua riqueza crescer 13% ao ano. O que os republicanos agora propõem não é consertar a economia que destruíram, com a mesma receita: é fazer uma coisa nova e nunca vista.


2 comentários:

Observador disse...

A receita também está a ser aplicada por cá, e o resultado está à ser catastrófico, e o pior dizem-nos, ainda está para vir, o cutelo sobre a nossa cabeça chama-se I.M.I. e se não houver travão á intenção do governo, nos vai pôr a dormir debaixo das pontes, (se não forem entretanto privatizadas).
Um abraço
Virgilio

Edum@nes disse...

Candidatos, promessas e mais promessas, para os eleitores enganar, temos pouco por onde escolher quem nos vais governar.
Mas é preciso lutar, contra aqueles que só nos querem roubar.
Enriquecem as custas dos eleitores, com promessas enganosas.
Mal formados engenheiros e doutores.
Com as suas artes manhosas.
E o povo vai na conversa, e os deixa continuar, é preciso incendiar a mecha antes do barco naufragar.

Bom fim de semana para ti, amigo Artur Leiria, ai e aqui e em toda a parte, continua com a tua arte!

Um abraço
Eduardo.